Resenhas

U2 - 2009 - No Line on the Horizon

Por William Lima | Em 30/03/2009 - 09:58
Fonte: Alquimia Rock Club

Antes de falar sobre o No Line on the Horizon (passarei a me referir somente à No Line daqui para frente) gostaria de lembrar que estamos numa época completamente diferente do auge da Banda, em especial pela decadência nas vendas do mercado fonográfico, é até engraçado reparar como hoje as pessoas preferem ter músicas espalhadas pelos HDs de seus computadores do que adquirir um CD numa loja ou pela internet, estamos numa época onde música é vendida “on demand”, ou melhor, onde dificilmente música é vendida. Não sou fatalista a ponto de imaginar a futura extinção do CD sem que haja um sucessor similar, mas estamos noutros tempos.

Ainda assim classifico o U2 como uma banda diferenciada, que consegue mesmo nessa atual situação do mercado, fazer barulho com o lançamento de um novo disco, causar expectativa e comoção, muitas vezes fazendo que meros ouvintes casuais de música (não apenas fãs da banda) voltem a ter aquela atitude em desuso hoje, comprar um CD sem ter ouvido todas as músicas, para uso próprio – digo isso porque, atualmente CD é sinônimo de amigo secreto.

No Lines foi um disco gravado sem prazos a serem batidos, deixando a inspiração surgir quando ela assim decidisse – exatamente como dever ser para uma grande banda como U2 – as espaçadas gravações foram realizadas em estúdios em lugares como Londres, Nova Iorque, Dublin e Fez (Marrocos).

A música que dá nome ao disco, “No Line on the Horizon”, tem uma bateria extremamente característica de Larry Mullen, com quebradas perfeitas e um back-vocal muito bem executado sob a voz de Bono, a sonoridade dessa música lembra tanto Achtung Baby (1991) como o U2 da década de 80 – sim, o U2 das multidões – sendo que "Magnificent" é outra que bebe na sonoridade apresentada pela banda naquela década, e poderia muito bem figurar em The Unforgettable Fire (1984) – [notem que eu disse figurar, já que o mesmo disco tem "Pride (In the Name of Love)", “Bad” e  “Unforgettable Fire”].

“Moment of Surrender” a terceira faixa do play, surpreende, primeiro com a introdução, com teclado sobreposto a uma bateria eletrônica digamos diferente, segundo a voz de Bono rasgada e não necessária mente afinada, com o tom de verdade que faz dele o que é, terceiro camas de teclado se sobrepondo vez a vez, quarto o tamanho da música, a mais longa do play com seus 7:20 dentre versos vezes melancólicos, vezes esperançosos. Depois de ouvir algumas vezes essa música fiquei sabendo o quinto e último motivo que faz dessa música uma surpresa, foi feita no dia da gravação, improvisaram toda estrutura da música num único dia, o que me leva a não reclamar da linha aparentemente inacabada de baixo de Clayton, bem como na inconstância e irregularidade no chimbal de Mullen.

Na seqüência passamos a “Unknown Caller”, uma música com um teclado extremamente interessante, seguido de um solo muito bem executado com um timbre um pouco diferente do esperado.  A música seguinte, “I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight” temos uma guitarra com o timbre característico de volta, porém um vocal que me incomodou um pouco até chegar o refrão que passa a mostrar que essa é uma daquelas músicas que viram hit rapidinho, com um apelo pop que não chega a incomodar quem já está acostuma com o som da banda.

“Get On Your Boots” é o primeiro single do disco lembra “Vertigo”, em gênero, número e grau, bem como algumas outras músicas no mesmo estilo da banda. Hit, mas não é a cara do U2, só uma música para se distrair, fora do contexto do próprio No Line, parece até que foi colocada depois de tudo pronto de tão diferente de todo o restante do disco – sim você ouviu essa música na propaganda da TV.

"Stand Up Comedy", para muitos é simplesmente a melhor música do No Line, para mim não agrada, lembra o estranho Zooropa(1993) está no lugar certo do disco, logo após o single, esperando para ou simplesmente figurar, mas com grande chance de virar carro chefe [espero que não], "FEZ-Being Born" é densa’, hipnótica, e aponta para possíveis caminhos que o grupo pode seguir no futuro [mais uma vez, espero que não], “White As Snow” também tem um começo extremamente denso, o que me assusta um pouco, depois a música toma um lado mais aberto e recebe um ar mais interessante, mas não deve passar de ser mais um figurante esquecida mesmo nas turnês.

Em “Breathe” voltamos a ter um U2 simples, com lembranças de banda de garagem, um refrão que gruda, que deixa transparecer o quanto Bono, Edge, Adam Clayton e Larry Mullen ainda sentem o calor da música e amam o que fazem.

A última música do play o encerra como deve ser, uma música que dá a entender “é o fim”. Bono declama a letra procurando respostas, simplesmente divina, ao invés de uma canção épica e grandiloquente, temos uma faixa consistente, intimista e relaxante.

Aqui no Brasil foram lançadas duas versões deste CD, uma simples, sem atrativos, do que se encontra em qualquer lugar e um digipack em versão limitada, cheio de detalhes, incluindo um poster do grupo, um longo encarte e um bem-vindo slipcase transparente que ajuda a conservar o disco. Não há comparação entre as duas versões, já que a segunda é infinitamente superior, e a diferença de preço hoje entre ambas não chega a R$ 10,00.

Finalizando, No Line on the Horizon é um belo trabalho que mostra um U2 com a mesma mentalidade, sem rachaduras e que mantém a qualidade musical, e podemos esperar um álbum irmão [como foi Zooropa (1993) para Achtung Baby(1991)] para o ano que vem, Bono já no dá o nome dele: “Songs of Ascent”. Aguardemos!
 



William Lima

Programador responsável pela estrutura do site Alquimia Rock Club, Desenvolve sistemas para Internet. Trabalha na área desde 2005.




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