Resenhas

BR METAL - "A estrada para o BMU" - Levante do Metal Nativo - 22.04.2017 - Gillan’s Inn English Rock Bar, São Paulo, SP

Por Bruno Veloso | Em 28/04/2017 - 01:21
Fonte: Alquimia Rock Club

Fotos: Jair Gomes Silva

 

Já havia um tempo que eu não ia ha um show e devo dizer que ainda não fui em um, pois o que tive o prazer de estar presente ontem não foi simplesmente um show e sim algo mais completo, com as apresentações do que ontem eu e alguns amigos apelidamos carinhosamente de “Big Four“ do Movimento do Levante do Metal Nativo, Armahda, Arandu Arakuaa, Tamuya Thrash Tribe e Voodoopriest (sem desmerecer as outras bandas do movimento que são  Aclla, Cangaço, MorrigaM, Hate Embrace)  juntos pela primeira vez  ontem no Gillan’s Inn English Rock Bar e cabe aqui uma menção honrosa, a casa é muito bacana, boa visão do palco de qualquer lugar em que você esteja, uma decoração clássica que remete a tradição inglesa, e equipe de Staff extremamente simpática e atenciosa, foi uma verdadeira celebração, celebração a união das bandas do underground brasileiro, celebração a causa indígena e também  a boa musica, além do show propriamente dito tivemos sorteios de camisetas e instrumentos musicais, incentivo a cena nacional, captação de doações para a aldeia Guarani do Pico do Járagua São Paulo.

 

As 21h00min exatamente entra na minha opinião a banda mais engajada da noite: o Tamuya Thrash Tribe e que me remete ao  sentido do “Levante“  do nome do movimento, o publico ainda estava chegando e a pontualidade da organização com o inicio do show mostrou respeito aos que já haviam chegado e depois conforme explicado por Richard Navarro produtor do evento essa pontualidade é uma maneira de incentivar a que o publico aprecie as bandas de abertura, e isso é uma logica, é bem melhor poder ver quatro bandas no mesmo dia do que ver ao invés de duas ou quando muito três em eventos organizados com esse porte e característica, Luciano Vassam apresenta a banda e abre o show com a musica The Voice of Nhanderu  e no segundo som a pesada The Last Guaranis mostra a que veio a banda e contagia a todos, o show segue e antes da musica Tamuya o vocalista Luciano explica um pouco sobre o inicio e a origem do nome da banda nos conta que Tamuya  foi um movimento onde varias tribos se juntaram e se negavam a ser escravizadas pelos portugueses, fez um paralelo ao movimento e disse que as bandas tem que se juntarem, o show segue cheio de energia e novamente antes da execução de Mártir ele da sua opinião sobre a comemoração de 22 de abril do descobrimento do Brasil ser uma invasão, e já da também a opinião sobre a inconfidência mineira ser uma revolução de burgueses e durante a apresentação de Martir o que se vê é o primeiro mosh pit da noite, após uma introdução com menção honrosa ao poeta do Manguebeat e segue “senzala/favela“ de Chico Science com a banda sendo apresentada e o carismático Luciano mostra um bom humor peculiar levantando a polemica entre “bolacha e biscoito“ ele diz que é biscoito e a galera responde em coro que é bolacha e tocam a saideira encerrando com um trechinho do hino nacional na guitarra distorcida e assim a primeira apresentação de uma noite que prometia anunciando a Armahda.

 

 

 

 

 

 

 

As 22h31min entra a banda paulistana de Power Metal Armadha com a bela instrumental Ñorairô e já emenda contando a historia da rainha louca com “Queen Mary Insane“ segue “What Could Never Be“, a banda tem um trabalho instrumental bastante rico e alterna momentos melódicos e um Power Metal vigoroso, a galera faz coro com o nome da banda e em “Canudos” o show segue cheio de energia , “Echoes from the River“  é sobre o mito do diluvio na tradição indígena que também é contado em diversas tradições, antes da emocionante “Last Farewell”  Mauricio Guimarães aproveita para agradecer a produção do evento, a casa e também aos presentes  e dedica a canção a todos os exilados do Brasil e assim que ela começa ele é acompanhado pelas palmas do publico. A musica Armahda é uma de minhas preferidas e tem o tempero do ritmo bem brasileiro muito bem mesclado com partes pesadas e com o mais genuíno Metal, o show segue com muita adrenalina e os fãs da banda continuam dando um show a parte cantando todas as músicas e fortalecendo o coro nos refrãos eles tocam a bela "Uiara" depois “Flags in the Wind“, "The Iron Duke", ao final do show enfim o som que os fãs da banda na boca do gargarejo pediam insistentemente e então “Paiol em Chamas” cantada em português é anunciada, abre-se o maior mosh pit da noite até então e o “Gillan’s“ literalmente pegou fogo, e assim termina o show da banda que na minha opinião entre as quatro tem o maior cuidado nos detalhes das letras e do lado histórico os cantando com emoção.

 

 

 

 

 

 

 

 

Aos dois minutos para a meia noite Richard Navarro sobe ao palco e anuncia assim ”- A primeira banda do mundo a cantar em tupi guarani, é Brasil, com vocês: Arandu Arakuaa“, e a banda sobe ao palco caracterizada com as pinturas indígenas e mostra toda a versatilidade de seu som , com maestria eles mesclam música indígena e Heavy Metal, Folk Metal, musica regional brasileira, muitas influências com instrumentos indígenas, Black Metal, com letras em: tupi antigo, xerente e xavante, vocais guturais, vocais melódicos, e já dão uma amostra de tudo isso na intro e na primeira musica que é “povo vermelho/Iwrapu já dando uma pitada do que viria, o guitarrista Zhândio Aquino anuncia a próxima canção “Padi” que inicia com um som pesado, cadenciado e marcado, a bela voz de Karina, os backing guturais, Zhândio Aquino com cantos indígenas apenas acompanhado por maracas, voltam as guitarras e termina a segunda canção, antes da próxima a nova vocalista amazonense Karine Aguiar (substituindo Nájila Cristina que gravou os excelentes Kó Yby Oré de 2013 e em 2015 - Wdê Nnãkrda  com a banda) que estreou com a banda um dia antes em Sorocaba e fez aqui a sua segunda apresentação,ela agradece o apoio de todos e diz que esta muito feliz em estar ali, se eu for narrar tudo que vi e me encantou essa resenha vira um livro, temos na sequencia Nhanduguasu/ Tykyra e depois um solo de Karine com uma musica regional muito bonita de mensagem muito profunda sobre ecologia, natureza e a amazonia e que termina com o grito de guerra: “Amazônia patrimônio do Brasil Porra!!!!!” , tocam Hêwaka Waktû, momento instrumental e solo e  vem Ipredu/ Dasihãzumze, segue o solo de bateria do também estreante amazonense Ygor Saunier que é anunciado como um estudioso dos ritmos do norte e nordeste e que realmente segue essa orientação na suas execuçoes,  segue Aruanãs, Nhanderú/ Moxy Pee Supé Anhangá pra encerrar o show da banda  mais nativa das quatro e que pra mim representa o aspecto “Nativo” do nome do movimento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As 01h40min o Voodoopriest entra no palco e se pra mim nessa noite o Tamuya é o “Levante“, e o  Arandu é o  “Nativo“ a trupe de Vitor Rodrigues é o “Metal“! A influencia histórica e musical marcante no trabalho das outras bandas aqui é presente na temática e no visual (lembrando que  na atitude o "levante" é intrínseco), o som é um  Thrash/Death Metal moderno e brutal e não tem mais o que eu possa escrever sobre a qualidade dessa banda que já não tenha sido escrito outrora  e nem tampouco traduzir em palavras a experiência de assistir a apresentação ao vivo deles. A banda é formada por músicos experientes e capitaneada por um dos maiores frontmans do Metal extremo do Brasil e me arrisco coloca-lo no mesmo patamar a nível mundial, já disse isso em outras resenhas, mas vou repetir, se o Brasil fosse um país justo no reconhecimento aos seus artistas (e também assumir a nossa mea culpa como movimento), eles seriam mais valorizados e teriam os merecidos méritos reconhecidos em grande escala, essa banda apesar de relativamente nova já é um gigante do metal nacional. O Show começa com os dois guitarristas da banda Renato de Luccas e Cesar Covero (que timbre !!!) junto com o baterista Edu Nicolini  no palco introduzindo a pancada “Dominate and Kill“ e na deixa entram o baixista Bruno Pompeo e o vocal Vitor Rodrigues, eles apresentam as musicas de seu Álbum Mandu e não tem como destacar esse ou aquele momento, a banda estremece o Gillan’s e contagia todos os presentes, até o staff da casa esta bangueando. Vitor levanta a moral da galera antes de anunciar “Warriors” afirmando que a musica era sobre o espirito guerreiro de todas as bandas de todos os brasileiros e todos os presentes, VoodooPriest é cantada em coro por todos os presentes e Vitor explica de maneira bem humorada que este foi o jeito que eles encontraram para que todos aprendessem a maneira correta de pronunciar o nome da banda e antes de iniciar Mandu ele fala sobre a lenda de Mandu que foi um grande guerreiro indígena que se levantou contra a escravidão e que isto não sendo contado pelos livros de historia ficava faltando muito da voz dos índios, negros e brancos na historia da formação da nação, ressalta que antes da “invasão“ já havia gente nestas terras, a banda é um trator que passou por cima de todo mundo e os mosh pits tomaram a maior proporção da noite não ficou pedra sobre pedra, Vitor declara que Nós somos a resistência e tocam  “We Shall Rise“, a ultima declaração da banda antes que Vitor volte ao final para agradecer a todos junto com o produtor Richard Navarro vem do excelente baixista Bruno Pompeo: " - Saravá, seu Pena Branca!!!!! " Levantando a imagem que esteve sobre o amplificador durante todo o show.

 

Richard sobe ao palco ao final, agradece a todas as bandas, a todos os presentes, faz o ultimo sorteio da noite, anuncia a disposição da casa que através do seu trabalho vai manter o espaço para as bandas autorais, que durante os dias de funcionamento vai rolar no telão clips das mesmas e é seguido por Vitor que diz ser uma pessoa priveligiada e ter muita sorte nessa vida e que é muito agradecido aos anos no Torture Squad sua antiga banda que lhe deram a bagagem que tem hoje, agradece os membros de sua banda atual e a todos os presentes, Richard finaliza pregando a união do underground e ressalta a qualidade das bandas e a dificuldade de divulgar e trabalhar com o underground.

 

Eu durante o show publiquei no meu perfil do facebook que esta seria uma resenha prazerosa de fazer, mas não imaginava que o sentimento ao terminar a mesma seria de muito, muito orgulho de fazer parte de alguma maneira deste que tenho certeza ter sido um momento histórico do Metal nacional desta que com certeza é a maior iniciativa do underground nos últimos anos. A produção do B.M.U  aderiu na reta final a campanha arrecadação dos agasalhos para a tribo Guarani aqui do bairro do Jaraguá São Paulo/SP  o Richard me agradeceu varias vezes por fazer parte da organização da mesma, de ir com ele até a tribo e filmar com ele um pouco da dura realidade a que tribos em localização urbana em grandes metrópoles estão passando, mas eu gostaria de dizer que quem tem a agradecer são os índios da tribo Guarani que com certeza ganharam nessa campanha muitos aliados.

 

A quem se interessar por mais informações: https://www.facebook.com/levantemetalnativo

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Alguns dos donativos arrecadados – Foto Bruno Veloso

 



Bruno Veloso

Membro Idealizador do Projeto, Produtor de Eventos e Produtor Cultural, atuando profissionalmente na área de eventos desde 1993, na produção técnica/artística com serviços prestados em praticamente todos os veículos de comunicação: teatro, televisão, eventos sociais e coorporativos, desfiles, portal web etc. Na Produção Cultural com atividades em organizações do terceiro setor atuou como Diretor de Eventos do I.A.C.E ( Instituto de Ação Cultural e Ecológica) desde o ano 2000 até 2010 com eco-eventos em parceria com o Grupo Pão de Açúcar, Uni Lever dentre outros e Produtor Cultural do Casa Brasil de Pirituba no ano de 2008, alem de toda a programação cultural do Alquimia Rock Bar em 2003 e 2004.




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