Resenhas

Copernicus - 2011 - Cipher and Dechipher

Por Fabiano Cruz | Em 13/04/2011 - 21:54
Fonte: Alquimia Rock Club

O que pode sair de uma tarde de livre improvisação e composições criadas na hora com base de poemas contemporâneos sendo declamados na hora? Foi nesse exercício de livre composição que o poeta e vocalista Copernicus gravou esse novo trabalho, Cipher And Dechiper, e o que temos aqui é uma junção de um instrumental que jogou tudo num caldeirão influências do Free Jazz, do Rock Progressivo em seu limite máximo e da vanguarda da música erudita contemporânea com temperos dos mais variados cantos do mundo, sendo a base para um poeta que declama suas idéias filosóficas sobre o Universo de uma maneira parecida com o Sprechstimme – técnica vocal “criada” pelo compositor Schoenberg mostrada na peça Pierrot Lunaire -, onde as melodias não são cantadas, e sim faladas e/ou declaradas; tudo isso criando uma verdadeira “poção mágica” que é impossível não ficar abismado e encantado com o efeito e resultado adquirido.


Discorrer sobre o Universo de uma maneira mais filosófica dentro do Rock – se é que podemos falar que esse trabalho, mesmo tendo a linguagem musical, é Rock, ou que seja de qualquer estilo -, não é novidade (um exemplo claro que vem à cabeça é o trabalho The Flocusing Blur, do Vintersorg), mas como foi escrito por Copernicus é algo inédito. Muito filosófico, ele discorre sobre os enigmas da Matéria, em seus pontos mais altos (mente, Alma) até os pontos mais baixos (nosso físico) com base no Universo; uma perfeita – mas complexa – idéia de um poeta sobre os pensamentos Físicos e Filosóficos que o Homem teve por vários anos, confrontando o novo e o velho, o sagrado e o científico, o real e o imaginário. Basta ver a letra de I Don’t Believe, aqui so um trecho para terem uma noção do discurso das letras: “I don’t believe/ I don’t believe in time/ I don’t believe in birth/ There is no life/ There is no death/ Illusions in the Sky/ Illusions in the mind”.


O som vai de carona no mesmo caos e intuição que foram criadas as letras. Totalmente livre em um complexo jogo de melodias, ritmos e harmonias – se é que podemos dizer que tem algo definido nesses sentidos no disco -, a base pode-se dizer que é calcada no Jazz-Rock. Temas como a abertura de Into the Subatomic e Infinite Strength são as que mais se aproximam do Rock - a primeira um “quê” de post-punk e a segunda, coisas do começo do Rock nos anos cinqüenta -, mas a linguagem jazzística mais livre dá espaço para que os músicos passeiem nos mais variados ritmos, como a funkeada Matter is Energy, a “mezzo” árabe, “mezzo” africana Step Out of Your Body e a abrasileirada Mud Becomes Mind. O ápice da criação fica nos poucos mais de quinze minutos de The Cauldron: começa como se fosse um Lead contemporâneo que o desenvolvimento cai num dos mais loucos Jazz-Rock que já escutei.


Copernicus é a mente criativa por trás de tudo, mas num trabalho extremamente complexo desse, ele teve o suporte do pianista e percussionista Pierce Turner, que foi o diretor musical que comandou 12 músicos – tirando ele e Copernicus – na concepção do álbum; entre percussões, tuba, guitarras, saxofone e cavaquinho, temos entre os músicos a participação da banda de Folk Rock Black 47: Larry Kirwan (guitarrista), Thomas Hamlin (bateria, percussão) e  Fred Parcells (trombone). O trabalho gráfico ficou por conta de Leonardo Pavkovic – que toma à frente da Moonjune Records, gravadora onde o disco foi lançado -, uma arte simples e ao mesmo tempo intrigante, mas eficiente ao conjunto.


Não é um trabalho que à primeira audição, se você não está acostumado à vanguarda musical dentro de qualquer estilo que seja, vá compreender. É um disco para se ouvir mais e mais vezes, a cada audição novas coisas aparecem e, acompanhando as letras ao som, realmente faz com que reflitamos em certos assuntos...


http://www.myspace.com/copernicusonline
 



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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