Resenhas

Andreas Kisser - 2009 - Hubris

Por Fabiano Cruz | Em 17/03/2010 - 13:46
Fonte: Alquimia Rock Club

Falar das qualidades de Andreas Kisser é chover no molhado. Como negar suas influências dentro e fora do Brasil é uma puta injustiça. Com sua carreira no Sepultura, ele se tornou um dos melhores guitarristas que nasceu em nossa terra, quiçá no mundo! Tendo mostrado suas habilidades, sempre se inovando, em sua banda, constantemente é chamado como convidado em vários projetos, tanto de bandas de Heavy Metal mundo afora como por nomes da MPB. Com essa bagagem nas costas, o guitarrista e compositor aos poucos foi gravando seu debut solo, o que lanço no ano passado em um trabalho duplo (onde originalmente sairia em duas partes). Batizado de Hubris (um conceito grego que pode ser traduzido como "tudo que passa da medida"; atualmente alude a uma confiança excessiva ou a um orgulho exagerado - originalmente contra os deuses, que com frequência termina sendo punida; na Antiga Grécia, aludia a um desprezo temerário pelo espaço pessoal alheio, unido à falta de controle sobre os próprios impulsos), o trabalho mostra todas as influências, técnicas e criatividade do músico


De começo já aviso: se pensam em adquirir o disco com a intenção de ouvir a pancadaria que ele faz no Sepultura, fiquem avisados que é a única coisa que não vemos aqui. O primeiro CD é voltado mais ao Rock e ao Fusion, como vemos nas primeiras músicas Protest e Euphoria Desperation, dois cartões de visitas para o que escutaremos no trabalho. O Rock aparece nas músicas Eu Humano (lembrando bastante os Titãs em seu Titanomaquia) e Virgulândia (lembrando bastante o Alice in Chains, principalmente pelos timbres de guitarra e tempo da música). Andreas arrisca em poucas músicas a cantar, o que não sai nada ruim – inclusive ele já testou o Sepultura como um trio, com ele à frente, quando o Max saiu da banda. Dois sons se destacam muito: primeiro, God’s Laugh. Apesar do nome em inglês, a letra é um dos maiores protestos à política nacional que já escutei, com a sonoridade do Rock sendo incorporado com a música brasileira, algo entre batuque e moda de viola. Isso tudo regado a uma melodia vocal muito próxima do Rap (daquelas que são quase faladas). A outra de destaque é a incrível parceria que Andreas fez com o Zé Ramalho na música Em Busca do Ouro. Perfeita união entre a MPB do Zé Ramalho com as guitarras pesadas e distorcidas do Andreas. O disco fecha com a indiana A Million Judas Iscariotes, mostrando que o guitarrista semrpe está atento a músicas e sonoridades do mundo todo, e dando a introdução a segunda parte.


Mais acústico e experimental, o segundo disco abre com a Sad Soil, um bonito solo de guitarra acompanhada de um violão dedilhado. Esqueçam até mesmo o Rock nesse segundo disco. O que ouvimos aqui são as suas influências mais acústicas e diversificadas, como a música “mineira”, com melodias e harmonias típica de músicos dessa querida região do Brasil, onde Andreas nos mostra na Breast Feeding e Page. Vivaldi e 0120 foram construídas em base na música erudita – inclusive as belas tonalidades em instrumentos de madeira na 0120 lembram muito a música erudita antiga, principalmente do “quintecento” italiano. Mythos nos traz uma das mais belas melodias já criada pelo Andreas, enquanto Armonia nos traz aos ouvidos o fado português. O ponto alto do trabalho todo se dá na faixa título: uma emaranhado progressivo que mistura todas as influências nacionais e eruditas do compositor. O disco fecha com um repente chamado O Mais Querido, que seria muito legal ao meu ver se não fosse a letra...


No disco, o guitarrista teve um primoroso suporte dos músicos Jean Dolabella na bateria (e antes de entrar no Sepultura), Henrique Portugal nos teclaodos, Fabio Azeitona na percussão e instrumentos de madeira, Renato Zanuto no piano e do Vasco Faé na harmonica e alguns vocais. Bem, como já disse, o Andreas Kisser é um dos melhores guitarristas do Brasil e esse trabalho so vem a confirmar isso. Espero que ele futuramente mostre mais trabalhos assim, mostrando uma outra face sua que não seja somente o Sepultura (que, entre nós, também está em uma de suas melhores fases)



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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