Resenhas

Os Mutantes - 2009 -  Haih or Amortecedor

Por Fabiano Cruz | Em 19/02/2010 - 21:27
Fonte: Alquimia Rock Club

Antes de escrever qualquer coisa, tenho que dizer  duas coisas: Primeiro, é extremamente difícil uma banda, principalmente formada nos anos 60/70, manter por anos sua formação de discos clássicos, por vários motivos: falecimentos, brigas, divergências de idéias. Mas, se mantiver uma só mente que seja de qualquer formação original, a idéia ainda está lá. Segundo, impossível querer em pleno ano 2000 produções e concepções musicais de 30 anos atrás; os artistas, não somente os músicos,  mantém suas mentes abertas ao que acontece no meio artístico e ao seu redor, e se o público não acompanhar seus pensamentos e as mudanças ao redor, realmente vai ser difícil para compreender qualquer Arte que seja.


Com isso em mente, vamos ao que interessa. Já tinha escutado alguns sons desse novo do Mutantes, principalmente as que eles estão trabalhando e vi o poder que os sons tem ao vivo no Festival Psicodália. Por causa do descasso da própria terra em que a banda se formou, so pude conhecer o trabalho na íntegra esses dias. E me surpreendo o quanto o disco é fenomenal! Por causa de algumas músicas um pouco diferentes, como o forró 2000 e Agarrum e a indiana Gopala Krishna Om, entendo até o porquê de muitos fãs olharem com receio ao disco, mas isso mostra que Sergio Dias, Dinho Leme e companhia ainda então ai para ousar hoje em dia. A faixa Querida Querida desde o começo já mostra a voz encantadora de Bia Mendes, enquanto a divertida e reflexiva letra de Blues de Bagdá nos fazem dançar ao seu ritmo. A banda, hoje em dia formada pelos já citados acima mais Henrique Peters (teclados, flautas), Fabio Recco (percussão, violão), Simone Soul (percussão), Vinicius Junqueira (baixo) e Vitor Trida (guitarra, cello, flautas) - esse último um grande destaque tanto no disco como ao vivo ao lado de Sérgio, Dinho e Bia -, não fica nada devendo ao passado, e composições como Teclar, O Mensageiro e Neurociência do Amor mostra que os Mutantes, mesmo muito tempo parados, ainda tem muita lenha pra queimar! Não podemos deixar de citar tambem a grande parceiria com o Tom Zé em muitas faixas e com Jorge Ben Jor na O Careca, mantendo a tradição de sempre a banda trabalhar com nomes da MPB.


Infelizmente, o único país que ainda não foi lançado o disco foi aqui no Brasil, terra de origem da banda. Não consigo compreender como fãs daqui reclamam a ausência da Rita Lee ou do Arnaldo Batista. Os dois já estão em outra praia, fazendo seus trabalhos a parte, e Sérgio Dias conseguiu, com maestria, colocar músicos de qualidade e criar um álbum perfeito. E se não fosse, como ele mesmo me disse numa conversa a parte no Festival Psicodália, eles não teria, excursionado por meses nos EUA ou feito alguns shows em outros países. Enfim, um álbum excelente, uma revigoração no nome Mutantes, mas, mesmo assim, é um disco complexo que tem que ser ouvido muitas e muitas vezes para o digerir por completo. E que continuem assim e lancem mais discos com essa formação! De preferência que gravadoras olhem mais uma vez pra essa banda e lancem seus discos aqui em nossa querida terra brasileira!



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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