Matérias

Sepultura: “De fato, eu conhecia outras pessoas que fizeram a audição”, afirma Derrick Green

 

Por Vagner Mastropaulo | Em 28/12/2020 - 22:56

Fonte: Metal Hammer


 

Para a seção “The Story Behind” da Metal Hammer 341 (novembro/20), mais exatamente entre as páginas 22 e 24, Derrick Green falou sobre sua entrada no Sepultura em texto assinado por Rich Hobson. Por se tratar de uma publicação gringa, há pormenores que nós, conterrâneos do grupo, estamos carecas de saber, mas, por outro lado, justamente por ser uma revista em seu idioma, o vocalista se aprofunda em detalhes sobre a época, sempre tendo Against e especialmente “Choke” como pano de fundo.

 

 

 

Ironias à parte, ao iniciar a contextualização acerca do play a suceder Roots, o jornalista discorre sobre as raízes do, até então, segurança: “Derrick Green nasceu em Cleveland, Ohio, e se mudou para Nova York após o desmantelamento do Outface, banda de hardcore melódico em que entrou em 1988, com apenas quinze anos. Em Nova York, Derrick formou duas bandas com gosto parecido pelo hardcore – o Overfiend, de vida curta; e o Alpha Jerk. Mas as noites de Derrick raramente eram passadas nos muitos bares e casas de show da cidade. Em vez disso, ele ficava do lado de fora, trabalhando na porta do bar do outro lado da rua de sua moradia”. Ele mesmo completou: “Eu morava no mesmo prédio que o Iggy Pop, então o via com frequência. Ele ia ao bar regularmente porque era amigo do proprietário. Existiam muitas pessoas incríveis que vinham por essa razão. Não era incomum ver Dee Dee Ramone ou [o diretor de cinema] Abel Ferrara apenas socializando”.

 

E o primeiro single de Against entrou em pauta com a fita de sua versão instrumental criada pelo grupo para quem quisesse mostrar potencial vocal, como comenta o norte-americano: “De fato, eu conhecia outras pessoas que fizeram a audição. Meu vizinho Jorge [Rosado], do Merauder, foi ao Brasil e fez testes com eles, mas acabou voltando porque as coisas não deram liga. Antes dele, também teve o Davide [Gentile], da banda Orange 9mm, que fez uma audição em San Diego. Ele era fanático por Sepultura e até conseguia tocar algumas das músicas antigas, mas, no final das contas, ele decidiu que tudo era um pouco acachapante demais. Davide era um amigo e me ajudou a me preparar. Fizemos uma demo juntos em seu estúdio”.

 

Rich então aponta Chuck Billy (Testament) e Phil Demmel (Vio-lence) como nomes “derrotados” pela fita de Derrick, que confessa: “Nunca soube que esses caras fizeram o teste até bem depois de eu ter entrado. Eu só estava tentando encontrar maneiras de representar a mim mesmo porque não queria apenas repetir o que fizeram no passado. Por acaso, era isso que a banda queria também”.

  

 

 

As revelações prosseguiram com o jornalista contando que, uma semana após convite de Iggor, o frontman estava num avião após aprender tudo que pudesse sobre a América do Sul pegando quantos livros emprestados conseguisse em uma biblioteca. Entre outras declarações, ele relata: “Era pré-internet! Nossa primeira semana nem teve a ver com música e sim com conhecer os caras. Ir a um jogo de futebol foi a experiência mais intensa – a pura camaradagem com milhares de pessoas que têm essa paixão, tanto que os estádios de concreto chacoalhavam com as pessoas pulando. Você ouve sobre essas coisas toda hora, mas ter a experiência foi completamente diferente” – o que justifica uma das fotos do artigo, com quem tem “Green” até no sobrenome usando camiseta do Palmeiras!

 

 

Derrick Greem com a camisa do Palmeiras - Foto: Mick Hutson - 2013 Getty Images

 

E como foram as coisas na semana seguinte? “Eles tocaram umas poucas músicas novas e eu apenas tive de inventar algumas coisas ali na hora, o que foi horrível. Eu estava tão intimidado, não havia me dado conta do quão grande era a banda – as pessoas os reconheciam na rua o tempo todo. Mas ao conversar com o Paulo, ele disse: ‘Este é o seu momento, você tem que agarrá-lo’”.

 

Curiosamente, a química que não rolou com o vizinho acabou surgindo entre os brasileiros e o novato, e muito graças a “Gene Machine / Don’t Bother Me”, o cover do Bad Brains lançado como B-side de “Choke” – a partir de 3’37” do video abaixo. “Essa música me aproximou da banda porque ela era algo familiar. Ver o Bad Brains ao vivo mudou minha vida e era uma banda que todos nós tínhamos em comum. Depois disso, tudo começou a fluir”.

  

 

 

A oferta oficial permanente só chegou mesmo um mês após retornar do Brasil, em tempos desfavoráveis: “Era um momento estranho. Não tínhamos um manager e a base da banda havia ido embora com a separação. Acabamos indo com Todd Singerman, que gerenciava o Motörhead. Ele nos ajudou tremendamente porque existiram muitas pessoas que viraram as costas e decidiram que já éramos. Eu não entendia. Tínhamos um contrato para mais três álbuns, então não fazia sentido para mim que eles não queriam nos apoiar e manter as coisas funcionando. Algumas pessoas lá queriam alguém que se parecesse com o antigo vocalista, soasse como ele – como se fosse muito trabalho tentar promover algo diferente do que a banda tinha sido”.

 

Já o nome do debut não poderia ter sido outro: “O título do álbum era Against porque sentíamos que todos estavam contra nós – era uma luta por sobrevivência. Com sorte, tivemos algumas pessoas ao nosso lado que ainda nos apoiavam e com quem podíamos fazer coisas legais, como alçar o Kodō [conjunto japonês de percussão Taiko] para umas partes em ‘Kamaitachi’ enquanto eu ainda estava fazendo os vocais”.

 

 

 

Não foi a única ajuda obtida durante as gravações em Los Angeles: “Jason Newsted era um grande fã da banda, então ele sugeriu que fôssemos à sua casa compor uma música. Ele argumentava que isso nos daria uma chance de tirar toda a negatividade e essa música se tornou ‘Hatred Aside’. Foi ótimo encontrar essa positividade contra a raiva e ele foi especialmente simpático comigo – ele realmente entendia o que significava ser o novato na banda” [nota: a faixa ganhou uma Versão da Quarentena em 19/08, no Sepulquarta #18 [https://www.youtube.com/watch?v=9ATGKZKsurM], com Angélica Burns (Hatefulmurder), Fernanda Lira (Crypta, ex-Nervosa) e Mayara Puertas (Torture Squad) também nos vocais].

  

 

  

 

 

Shows secretos sob a alcunha de “Troops Of Doom” em Hollywood (House Of Blues), Fullerton (Club 369) e San Diego (Brick By Brick) marcaram a estréia do cantor ao vivo e, se para este escriba, a maior lembrança de sua primeira apresentação em São Paulo em 15/08/98, foi a mega paralisação do evento comandada por Carlinhos Brown no palco, em busca de um potencial suicida chamado Rafael [www.rockemgeral.com.br/2008/07/02/barulho-contra-a-fome] (se alguém souber que fim tiveram essa estória e o garoto, deixe seu comentário), o palmeirense se recorda de tudo sob outra perspectiva: “Mesmo antes de eu entrar na banda, eles estavam se preparando para este show em São Paulo. Era algo grande chamado ‘Barulho Contra Fome’. Tocamos para mais de trinta mil pessoas e tivemos convidados especiais como Mike Patton, Jason Newsted e Carlinhos Brown, o cara que tinha ajudado a escrever Ratamahatta. Foi um momento verdadeiro para mim. Estive trabalhando minha vida toda para tocar em shows como esse”.


 

  

 


   

 

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 Cartazes do evento "Barulho Contra Fome" 

 

 

 

 

  

 

Será que “Choke” funciona ainda hoje? “Toda vez que a tocamos, ela me traz memórias de me juntar à banda e fazer aquela demo. É um lindo sentimento ainda estar fazendo isso hoje e saber que as pessoas escutam a música e dizem: ‘Adoro essa!’ e cantam junto – uma grande mudança para daqueles primeiros anos! Eu me lembro de excursionar com Slayer e System Of A Down quando ela acabara de sair, os fãs enlouqueciam com o material antigo e então cruzavam os braços toda vez que vinha uma música nova. Ainda nos saímos melhores do que o System – esses caras estavam em seu primeiro álbum e os fãs apenas diziam: ‘Esses caras usam maquiagem’ e vaiavam. Mas por mais difícil que parecesse à época, acho que fizemos boas escolhas. Continuamos com o que acreditávamos e não fomos chacoalhados por aquelas forças externas negativas”.

 

A matéria na íntegra pode ser lida aqui, em link disponibilizado pela Metal Hammer em 20/11.

 

Confira também a matéria especial publicada em 2018 no Alquimia Rock Club sobre os 20 anos de Against: http://www.alquimiarockclub.com.br/materias/6272/ 

 

 

 

 

Foto do encarte de Against por Stefan Schipper

 

 

Derrick Green em show no Tom Brasil em São Paulo no dia 12 de julho de 2019 - Foto André Alves BG (@andrealvesbg) - confira a resenha:  http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/6517/

 

 



Vagner Mastropaulo

Bacharel em inglês/português formado pela USP em 2003; pós-graduado em Jornalismo pela Cásper Líbero em 2013; professor de inglês desde 1997; eventualmente atua como tradutor, embora não seja seu forte. Fã de música desde 1989 e contando... começou a colaborar com o site comoas melhores coisas que acontecem na vida: sem planejamento algum! :)




blog comments powered by Disqus