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Festival Psicodália de Carnaval 2011 - Primeira Parte

Por Fabiano Cruz | Em 10/06/2011 - 17:50
Fonte: Alquimia Rock Club

Um Olhar Sobre o Festival


Não tem como negar o máximo esforço que o pessoal envolvido na produção do Festival Psicodália de Carnaval fazem para que as pessoas se sintam bem todos os anos. Nesse eu fui um pouco antes acompanhando o pessoal envolvido e o trabalho é imenso para que não tenha falhas; mas mesmo assim ainda acontece alguns fatores que dão margens para que nem todos fiquem contentes.


A principal mudança – e a que acarretou mais problemas – foi a troca das Dálias, os famosos e simpáticos cartõezinhos que simulavam uma economia local – por um sistema de cartão de credito, onde as pessoas colocavam o valor que quisesse para gastar dentro do festival. A idéia é ótima, inclusive pensando em facilitar o consumo, mas algumas falhas do sistema fizeram com que acontecesse em algumas horas e dias enormes filas para almoçar ou comprar uma cerveja. Claro que o povo não ajudou em alguns momentos: a “formatação” de que temos que almoçar meio dia em ponto fazia com que um mundaréu de gente fosse almoçar à mesma hora. Servido das 11:00 às 15:00, dava bastante tempo do pessoal almoçar a vontade e quem fosse mais cedo ou um pouco mais tarde não enfrentava filas. Um ponto a ressaltar foi o receio e timidez para que se sentasse em mesas com pessoas desconhecidas... Bem, o Psicodália sempre foi um lugar de amizades e almoçar juntos conversando sobre (ou não) o festival era uma boa oportunidade; mas o que se via eram algumas pessoas perdidas na praça de alimentação com o prato na mão esperando alguma mesa vazia. Particularmente, acho engraçado como certos hábitos que nos impõe numa rotina “normal” de cidade são difíceis de deixar de lado...


Esse mesmo sistema teve problemas maiores no primeiro dia de entrada.  Com a informatização, foi um pouco complicado e difícil achar quem comprou o bilhete antecipado por internet e por depósito bancário, causando um verdadeiro tumulto na entrada, com pessoas que chegaram lá ao abrir os portões ao meio dia entrando somente duas ou três horas depois; e quem comprava o bilhete na hora ou já estava com o bilhete físico na mão, entrava na hora. Com certa organização do pessoal na portaria, todos entraram, mas às cinco da tarde da sexta feira ainda tinha gente do lado de fora.


Outro pequeno detalhe que deixou algumas pessoas irritadas e deu mais vazão para reclamações, foram os créditos colocados. O festival não devolveu os créditos que sobraram nos cartões, então quem exagerou colocando uma quantia enorme de dinheiro e não gastou, ficou sem ele. Mais um problema que não deveria colocar somente ao festival, pois era somente as pessoas controlarem os gastos e os créditos. E falando em créditos e dinheiro, outra reclamação foram os preços das comidas. Muitas pessoas já reclamaram antes do festival sobre o preço que poderia ter na cerveja – que o festival contornou com duas marcas e preços diferentes – mas não contou com o almoço e outras coisas. Bem... Claro que é chato o aumento das coisas, mas vamos conscientizar que a anos que o festival colocava o mesmo preço nos produtos, mesmo com inflação e aumento de matéria-prima. Mais uma coisa que, a meu ver, não tem muito que reclamar... (e experimentem almoçar nessa grande e cinzenta São Paulo para verem o valor real de um almoço...)


Apesar de todos os problemas, a informatização do Festival é totalmente necessária. Todo ano o Psicodália cresce mais e mais e chegaria uma hora que seria inevitável parar com papéis. Esse ano de implantação do sistema foi algo “às escuras”, mas agora vai dar tempo do pessoal pensar nos prós e contras e no próximo contornar os problemas e reclamações ai citados.


E falando em filas, o sistema de banheiros esse ano teve esse problema. Se no último reclamaram da sujeira, nesse os banheiros ficaram os 5 dias do festival impecavelmente limpos, mas novamente algumas pessoas não ajudam. A já citada “formatação” ai em cima levava todos no começo do dia ou fim de tarde para tomar banho, sem procurarem outros horários. Resultado: filas. E outros problemas foram a demora de algumas pessoas no banho e a falta de educação – me desculpem, mas não achei outra palavra – de jogarem papel e trejeitos no vaso em vez de jogar no lixo, causando entupimento de alguns vasos sanitários; esse problema só não piorou porque realmente a equipe de limpeza e manutenção entrava rapidamente em ação.


O funcionamento da Radio Kombi foi mais importante ainda, aumentando a sua funcionalidade e responsabilidade dos envolvidos. Contando com os programas diários, o sistema de informações durante o festival deixou todos a par do que acontecia nas oficinas, teatros e shows; bem como deixar informados quem trabalhava e os músicos em seus horários e responsabilidades. Apesar de algumas pessoas ainda verem como uma “brincadeira” – às vezes nem respeitando o espaço, pois era aberto e vazava sons próximos aos microfones -, a Radio Kombi a cada ano vai se tornando uma peça fundamental ao evento.


Sobre as oficinas, foi claro a grande procura das pessoas; muitas das oficinas tiveram uma preocupação ambiental e com a saúde, como a oficina sobre plantação de árvores e a sobre tipos de respirações. A maioria voltada às artes teve um grande sucesso e muitas pessoas saíram contentes com o que os oficineiros apresentaram. Também teve as sessões de cinema e de teatro que ocupou todos os dias à tarde o Saloon, alternativas de Arte e espetáculo para quem não queria ver os shows no Palco do Sol. E, claro, a recreação infantil, tomando conta e sempre educando da melhor forma as crianças no festival, enquanto os pais descansavam nas mais variadas e diversas coisas que o Psicodália nos propõe a fazer e ver.


Como já disse, a preocupação com os organizadores é imensa para que o Psicodália seja cada vez melhor, e todo ano conseguem se superar. Impossível ver e observar tudo o que acontece dentro dele com o tamanho que adquiriu; pela pouca convivência que tive fora os trabalhos junto à Radio Kombi e a cobertura dos shows, não tem como negar o crescimento que teve desde 2008, primeira vez em que fui.


Bem, vamos aos shows!


Primeiro Dia - 04.03.2011


Antes de começar a falar sobre os shows, tenho que colocar uma coisa em pauta: a preocupação com o festival de expandir os conceitos que tem à outras formas de música, não ficando somente ao Rock esse ano. Jazz, reggae, música brasileira e música folclórica de outros países tiveram seu destaque. Desde que entrei pro “time” na Rádio Kombi, O Psicodália já foi expandindo esse conceito, pois faço um programa voltado ao Blues; mas esse ano essa “expansão” chegou aos palcos. Uma das mais primorosas iniciativas que o pessoal teve, pois só faz crescer ainda mais o festival. Oras, se ele abre espaço para as mais diversas formas de Arte, qual o “não” de expandir os conceitos musicais?  A organização tem um cuidado maior nas bandas que contrata, podemos esperar de olhos (e ouvidos) fechados as bandas da programação, pois sabemos que sempre terá qualidade. Mas... Claro que algumas pessoas não gostaram de “coisas” diferentes musicalmente; realmente agradar a todos é complicado, mas paramos para pensar um pouco na expansão que o festival teve com essa atitude. (Até uma Jazz Parade, bem aos moldes do Carnaval de New Orleans teve! Bem tímido, mas teve!)


Os shows na sexta a noite foram realizados no Palco do Pasto, o palco principal, abrindo a maratona de bandas às 22:00 e, logo de cara, mais uma surpresa, e bem agradável por sinal. Esse ano tivemos a belíssima modelo e apresentadora Adriane Grott, já bem conhecida das passarelas e programas de moda e beleza da TV a cabo como apresentadora do festival, anunciando banda por banda. Uma tacada perfeita da organização, pois juntou beleza e informações sobre as bandas – soube mais tarde que a organização sempre pensou nisso, mas por motivos de contratuais, os nomes em que sempre pensaram, nunca foram trabalhar no festival. E assim, a primeira banda a ser anunciada foi o Mescalha. Donos de uma pegada fortíssima, seu som Hard setentista com uma fortíssima influência de Heavy Metal nos seus primórdios, a banda entrou com os metendo os dois pés no peito que quem já estava por lá, se apresentando com uma energia muito grande suas complexas e técnicas músicas. O ponto alto – para os mais puristas do festival, um ponto a se esquecer – foi o meddley de riffs que fizeram a história do Hard Rock e Rock’n’roll, passando por Beatles a Black Sabbath. Mesmo com algumas pessoas torcendo o nariz pra isso, não poderia ter começado melhor o Psicodália.


E em pouco tempo de troca de palco e instrumentos – mais um ponto positivo, pois esse ano não teve nenhum atraso significativo, como na última edição -, sobe aos palcos os malucos do Terra Celta. Misturando o folk celta com a nossa querida música popular e o Rock, utilizando inclusive instrumentos como acordeon e gaita de fole, a banda fez um dos shows inesquecíveis esse ano logo na primeira noite! O violinista e vocalista (ver nome), como toda a banda, eram so alegria por estar pela primeira vez no Psicodália e no meio de piadas e conversas com o público, a banda atacou com sua música divertida e dançante, levantando o astral de quem já estava por lá. Não param um minuto em palco, correm de um lado ao outro e canções como Arrigo’s History – uma bem humorada história da própria banda – e a versão para a clássica Whisky in the Jar, fez o pasto da Fazenda Evaristo ficar uma verdadeira pista de dança. E não teve como se divertir com os loucos descendo do palco e mandando aquele folk irlandês no meio do público! Com os presentes abrindo uma roda, o Terra Celta conseguiu representar uma festa típica irlandesa; so faltou mesmo a fogueira no centro!


Depois de um show memorável, onde a banda até passou dos limites de tempo, o povo ficou ávido para mais festa e dança e rumaram para a estréia do Palco dos Guerreiros, um palco montado para os que agüentavam a madrugada afora dentro do Saloon, e depararam com mais uma surpresa: a banda Blasmusic nos brindou com músicas totalmente folclóricas germânicas; formada por sopros, o Blasmusic continuou a festança com danças e sorrisos madrugada adentro. Particularmente, me senti como se estivesse na Oktoberfest em terras alemãs – inclusive pela quantidade de cerveja que rolava dentro!


Com várias excursões chegando tarde da noite, muitas pessoas mal descarregaram as malas e barracas e já caíram ao gosto das bandas que abriram a edição de 2011, e não poderia ter começado melhor com três bandas que não deixou o povo quieto um minuto sequer!


Continua...


(segunda parte)

(terceira parte)



Fabiano Cruz

Músico formado em composição e arranjo, atualmente expande seus estudos musicais na UNIS em licenciatura. Possui DRT em Jornalismo e Produtor Cultural e trabalha na área de criação musical, com já fez trabalhos em produções artísticas, rádio e TV.




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