Entrevistas

Tuatha de Danann: “Somos uma banda de verdade que anda com as próprias pernas”

Por André BG | Em 16/12/2019 - 02:26
Fonte: Alquimia Rock Club

 

Foto: Divulgação

 

Com respeitáveis 25 anos de atividades de uma carreira digna e honesta, o Tuatha de Danann vem divulgando seu mais recente álbum “The Tribes of Witching Souls” lançado esse ano pelo selo Heavy Metal Rock. E foi para falar sobre esse trabalho, tempo de estrada, mudanças no cenário musical, entre outras novidades que a banda atualmente formada por Bruno Maia (vocal, flauta, guitarra, violão, bandolim e banjo), Giovani Gomes (baixo e vocal) Edgard Brito (teclados), Rafael Ávila (bateria), Nathan Viana (violino) e Raphael Wagner (guitarra) concedeu uma entrevista exclusiva para o Alquimia Rock Club que você confere a seguir:       
 
Alquimia Rock Club: Primeiramente, gostaríamos de agradecer por concederem essa entrevista para o Alquimia Rock Club. Vamos começar falando um pouco sobre o mais recente álbum “The Tribes of Witching Souls”. Gostaria que comentassem um pouco sobre esse trabalho, como foram desenvolvidas as ideias que resultaram nessa obra e como tem sido sua repercussão?

Bruno Maia: Nós que agradecemos ao espaço e interesse em nosso trabalho, viu? Pra falar a verdade, este disco até demorou bem pra sair por conta da saída do nosso baterista, no início de 2018. Nós já iríamos gravar e bem provavelmente lançar o disco no primeiro semestre daquele ano, mas como ele saiu e tínhamos alguns bons shows marcados, tivemos de achar um substituto, ter tempo pra ele tirar as músicas todas, ensaiar, tinham shows acústicos e elétricos e daí tudo atrasou demais. Mas há males que vem pro bem e no caso isso ocorreu, pois deu tempo de mudarmos algumas músicas, mexer em outras e isso fez com que o disco ficasse do jeito que queríamos. Não temos um ritual ou modus operandi definido pra compor, então isso não mudou muito, mas falando por mim, tenho criado muito ao piano. Embora não domine bem o instrumento, consigo me virar e este instrumento me abre muitas frestas pra compor. A repercussão do disco tem sido muito boa e fizemos muitos shows este ano. Vendemos muitos CD’s, acabamos de licenciar o disco pra Europa. O pessoal que nos acompanha também é muito competente e são, antes de tudo, ótimas pessoas e amigos, então tudo acontece. São eles: Rafael Ávila na bateria, Nathan Viana no violino e Raphael Wagner nas guitarras.

Alquimia Rock Club: Qual seria na opinião de vocês a maior diferença entre “The Tribes of Witching Souls” e seu antecessor “Dawn of a New Sun” de 2015?

Bruno: Acho que o 'Dawn' foi nosso álbum mais urgente. As músicas são mais diretas se comparadas às antigas canções nossas, parece que tudo está mais contido nele. Deve ser nosso álbum mais pesado e na cara. Talvez isso tenha acontecido pelo fato de termos vindo de um hiato criativo na banda e por termos desovado muitas influências progressivas e 'viajonas' no disco do Kernunna (2013). Eu adoro a sonoridade do "Dawn" e creio que é um de nossos melhores trabalhos. O "Tribes" acho que tem algumas das melhores músicas que já fizemos e o vejo como um disco bem diverso, cada música é de um jeito diferente. Muito orgulho desse trabalho!

Giovani Gomes: Em relação a sonoridade, acho que no Tribes conseguimos enxergar um horizonte diferente como por exemplo na música Turn...

 

 


Alquimia Rock Club: Ainda sobre “The Tribes of Witching Souls”, o álbum conta com a participação de Martin Walkyier (ex-vocalista do Skyclad e Sabbat) na faixa “Your Wall Shall Fall”. Como surgiu a ideia de convida-lo para fazer essa participação?

Giovani: O Martin é um dos nossos ídolos e acabou virando um parceiro aí em várias composições da banda desde que ele fez a primeira tour aqui com o Tuatha/Skyclad nos tempos áureos do Roça n Roll. Essa música eu creio que foi a primeira do Tribes.

Alquimia Rock Club: 'Turn', uma das faixas desse mais recente álbum recebeu um clipe lançado no último mês de setembro. Gostaria que comentassem um pouco sobre esse vídeo, ele é considerado uma das produções mais requintadas da história da banda certo?

Bruno: Sim, o clipe ficou bem legal! Nós nunca fomos tão bons em vídeo, saca? Nosso primeiro vídeo foi uma piada, mas de certa forma teve seu papel na formação de nossa imagem por aí, o segundo já era uma compilação de imagens de uma turnê na Europa e de legal mesmo tivemos o DVD acústico. Então, este clipe é sim a primeira produção fílmica mais esmerada em nossa carreira. Gostamos muito do resultado.

Assista o clipe de Turn abaixo ou em bit.ly/tuatha-turn

  

 

 

Alquimia Rock Club: Recentemente houve os relançamentos do EP “Tuatha de Danann”, originalmente lançado em 1999 e do álbum “The Delirium has Just Began”, originalmente lançado em 2002, ambos com faixas bônus. Gostaria que comentassem um pouco sobre esses relançamentos e o que esses dois registros representam para a história da banda?

Giovani: Nosso primeiro álbum, o Tuatha de Danann, não teve uma gravação à altura... Tudo muito corrido, muito doido e talz... Curto demais... Curtimos demais esse CD... Por isso resolvemos regrava-lo e lançar com o original de bônus... Deu pra lavar a alma haha com participação do ex-vocalista Marcos Ulisses que cantou na Demo original a Faeryage (que inclusive estamos vendendo em shows e por correio, além de umas raridades aí que encontramos, com as capas originais - haha momento merchan rs). Já o relançamento do Delirium foi necessário, pois já não tínhamos mais o CD em mãos, estava fora de catálogo há anos, e já que íamos fazer outra prensagem aproveitamos para colocar alguns bônus. É dos meus favoritos do Tuatha.

Confira a resenha do álbum The Delirium Has Just Began lançado originalmente em 2002 e relançado em 2018: http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/5955/



 


Alquimia Rock Club: O Tuatha de Danann está há mais de 20 anos em atividade, muita coisa mudou e continua mudando na cena Rock/Metal no Brasil desde que a banda foi formada, como vocês veem a cena nos dias de hoje e onde o Tuatha de Danann se encaixa nesse contexto?

Bruno: Puizé, se contarmos desde a primeira demo sob o nome Tuatha de Danann já são 25 anos. Viemos de uma época sem internet, que era tudo na base de correspondência, fanzines, carta pra fãs, distribuidoras e tudo mais. Com a internet e a forma de se experienciar e consumir música tudo mudou. Houve uma banalização e a música deixou de ser um fim pra se tornar um meio: a pessoa não para pra ouvir música, ela ouve música enquanto faz outras coisas. Antes, quando existia esse ritual pra ouvir música, as pessoas acabavam se interessando mais pelos artistas, lendo as letras e as informações dos encartes, ouviam o disco todo e assim se formava público pra bandas pequenas e por aí ia. Atualmente, por conta dessa 'banalização', a revolução comportamental, os artistas consagrados, os medalhões, tem tudo em suas mãos, pois já são grandes e tem capital pra manter seu nome em evidência, comprando tudo,  seja nas plataformas digitais, seja nas redes sociais ou  em qualquer lugar. É uma extensão do neoliberalismo, a lei do mais forte.  Daí esses caras se mantem e fica difícil criar novos medalhões, vide os line ups dos grandes festivais, quando é rock ou metal, pelo menos, tem de ter os gigantes, se não, não dá público. Antes, até uns 6 anos atrás, mais ou menos, festivais menores conseguiam se manter com bandas pequenas e médias, e eu digo da cena brasileira, hoje tá difícil um fest se manter, pois não se forma público pra essas bandas, se não abrir as pernas ou não recorrer a grandes nomes, ferrou. Não estou reclamando, estou dizendo como vejo a mudança, é a história, novas tecnologias, novas práticas (incluem-se aqui bandas tocando com playbacks, trilhas pré-gravadas), crises, clarões. Nós temos um pouco de sorte por termos vindo de antes disso tudo que eu falei e já termos cravado nosso nome num pequeno nicho dentro da cena metal, que é um nicho. Se começássemos hoje, quebrados como somos, não duraríamos muito não. A gente aproveita esse capital humano e simbólico que temos que são nossos admiradores, pessoas que nos acompanham em shows, adquirem nosso material, dão todo o incentivo pra banda continuar e tudo mais. Somos muito gratos a todos eles por nos darem a vida que temos, que é manter este sonho louco que é viver ou tentar viver de arte no Brasil.

Alquimia Rock Club: Obviamente que nesses mais de 20 anos de carreira o Tuatha de Danann deve ter passado por poucas e boas como todas as bandas de Rock/Metal no Brasil passaram e passam. Qual foi o momento mais complicado da carreira da banda e o melhor momento na opinião de vocês?

Bruno: São muitos momentos bons, ruins foram poucos pra mim. Os melhores: 96 quando lançamos a primeira demo e ficamos muito surpresos com a repercussão da mesma na cena underground. Eu tinha 15 anos e tudo parecia surreal, foi o impulso primeiro pra seguirmos em frente, ter quem acreditasse e adquirisse nosso som. 2005 - Quando fizemos uma turnê internacional bancada pela nossa gravadora francesa e éramos headliners, fizemos shows sold out em Paris, tocamos no Wacken ganhando um prêmio e tudo mais. 2019 - Quando lançamos o "Tribes" e nos sentimos revigorados e novamente apaixonados pela nossa música.
Pior: quando começamos a ter problemas com membros dentro da banda que acabaram implodindo o Tuatha quase dez anos atrás.

Giovani: Me lembro de um momento, uma viajem da França para a Alemanha onde estávamos como se diz "a Deus dará" (no cangaço mesmo), virados, sem comer feijão pra mais de mês... Cheio de instrumentos, bagagens, uns souvenirs que queria pinchar longe e zilhões de mudanças de trens, algumas sem intervalo... Apenas jogávamos as coisas pra dentro e cada um entrava num vagão diferente pra caber tudo... Quando finalmente chegamos com muita chuva claro rs... Levamos um chá de cadeira de horas... Nos levaram direto pro palco (haha) galera desmaiando... walking dead mesmo... Mas no meio da primeira música já estava todo mundo recarregado... Posso dizer que esse foi o pior e o melhor momento, pois logo em seguida veio o Wacken.

Alquimia Rock Club: Quais os planos para o futuro próximo da banda?

Bruno: Devemos lançar um álbum inteiro só de música tradicional irlandesa, canções e tunes. Será nossa primeira vez gravando algo 'cover' (embora se trate de temas anônimos perdidos na tradição) e parece que vai ficar massa demais! Será nosso tributo definitivo à música e cultura deste país que tanto nos influencia.

Alquimia Rock Club: Mais uma vez, agradecemos por concederem essa entrevista para o Alquimia Rock Club, o espaço é todo de vocês para darem um recado final ao público.

Bruno: Nós é que agradecemos a vocês e a todos que sempre nos acompanham, que compram nossos discos, camisetas, vão a nossos shows, curtem e compartilham nossos conteúdos e assim nos sinalizam pra continuar, mostrando que temos importância. A quem já nos conhece deixo nosso muito obrigado e a quem não conhece, porque não dar uma chance? Somos uma banda de verdade que anda com as próprias pernas, sem gozar com nada de ninguém e sem usar playback, sem enganar ninguém... Nos vemos por aí!

Giovani: Obrigado a todos do Alquimia Rock Club pela entrevista, e ao público peço que sigam o Alquimia, sigam o Tuatha nas redes sociais #tuathaofficial, Spotify (outras plataformas) e nosso canal no YouTube, onde estamos sempre postando alguma novidade. Nossa página na Internet onde tem a loja virtual e agenda de shows é www.tuathadedanann.art.br, vamos ajudar a manter a chama do undeground acesa! Don't let the flame die out!
 

Foto: Divulgação


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André BG



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